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Yaxk'in, um "dia novo"

Este post (que não chega a ser um texto cadêmicu) tá aqui pois https://antropolou.co - um dos meus novos projetos paralelos - ainda não tá pronto. Sim, vai tá nas rede hegemônica tudo também - mas vai melhorar quando tiver site próprio e podcast (amém!).

Todo mundo quer ver “um novo dia”, não é mesmo?! Quem num qué um novo dia de paz, harmonia e “tudo” de bom?

O “dia novo” sempre aponta pro futuro, mais do que para o passado ou o presente. O novo dia é sempre o próximo dia, e mesmo quando ele se transforma no dia de hoje há de se seguir mirando o novo dia. Não fosse isto, não estaríamos contando os dias. Esperamos que ele, o dia de amanhã, possa vir, pra que assim a conta seja atualizada, e ele vem.

O Tzolk’in (contemporaneamente conhecido como Cholq’ij), calendário maya de 260 dias, sem dúvida é muito importante, mas teria perdido muito em importância (e mesmo não teria sido tão usado) se não fosse seu uso combinado a outras contas de tempo. Entre os calendários mayas, temos o [Ja’]Ab’, de 365 dias, que é o principal exemplo de ciclo que foi e segue sendo “casado” ao Tzolk’in, por uma série de razões que vão se tornando óbvias, conforme adentramos estes universos mesoamericanos.

Diferente do calendário gregoriano, no Ja’ab’ a conta é dividida em 18 vintenas (18 ciclos de 20 dias, portanto, ou 360 dias) com mais um último (e curto) período de 5 dias, para completar os 365 dias. E sem anos bissextos, claro! Inclusive pois a interação entre Tzolk’in e Ja’ab’ era e segue sendo fundamental; pelo que parece, muito mais importante do que aderir a conceitos mais afins à astronomia ocidental. Neste calendário, segundo a tradição maya “clássica”, em que os dias são contados de zero a 19, o ano iniciou-se em 11 Manik’ (31/03/2022), o dia do Tzolk’in que é “dono” do ano, portanto - estamos num ano regido por 11 Manik’; e hoje, no Ja’ab’, é dia 5 Yaxk’in (YAX K’IN), o sexto dia desta que é a sétima das 18 vintenas.

Para entender o que é Yaxk’in”, ajuda muito considerar que “YAX” é uma palavrinha um tanto polissêmica, podendo ser traduzida como “azul”, “azul-esverdeado” (até “verde”, ou “turquesa”), mas também “primeiro” ou “novo” - conceitos que também podem estar ligados a essas cores. Já “K’IN” é a palavra maya mais conhecida de todas, e que significa “Sol” ou “dia”. O que pra nós mais se aproximaria dos conceitos de “Sol” E de “dia” acabam se encontrando numa mesma palavra. Sol e tempo, de certa maneira, se confundem na epistemologia maya (no modo maya de conhecer o tempo), se quisermos dizer assim. Em movimento no espaço e com o poder de influenciar drasticamente tudo ao seu redor, poderíamos considerar o Sol como o grande fundador do [pensamento sobre o] tempo (e do espaço) na experiência humana, não só para os mayas. Existe, no mínimo, um tempo ou um período de luz seguido por outro de escuridão, que se alternam diariamente. Interessante já dizer isso(!), mas a ênfase hoje não está nisso, e sim em significados relacionados ao prefixo que nos trouxe K’IN (a YAX):

Hoje, conforme post do @tzolkin.br, é um dia 13.0.9.13.2 6 Eb’ 5 Yaxk’in (03/08/2022), portanto 6 Eb’ (“Caminho”, “Dente”) no Tzolk’in e 5 Yaxk’in no Ja’ab’. E qual haveria de ser a importância de Yaxk’in e do dia 5 Yaxk’in? Sendo YAX uma palavra que pode ser traduzida como “novo”, Yaxk’in é costumeiramente traduzido como “Sol novo”/“novo Sol”, ou “Dia novo”/“novo Dia”. Mas isto, por si, talvez não diga muito também, não é mesmo?

Yaxk’in é quando chegamos a uma vintena toda “nova”, de fato, num sentido específico (mais do que isto, matemático)! E pq? Os dias do Tzolk’in que chegam junto com Yaxk’in já são todos “únicos”, “novos”, dentro do ano em questão. Ou seja: hoje é 6 Eb’, e este será o ÚNICO dia 6 Eb’ a ocorrer ao longo deste ano inteiro, um ano 11 Manik’. Uma vez que a diferença entre o Ja’ab’ e o Tzolk’in é de 105 dias, logo os primeiros 105 dias do ano são também os 105 últimos dias do ano. O 106o dia (primeiro dia “novo”, “[primeiro e] único”) é apenas em 5 Xul (TZ’IK’IN), o sexto dia da vintena “do Cachorro”, e que coincidiu com 12 Eb’ no Tzolk’in (20 dias atrás, 14/07/2022). Foi quando inaugurou-se um ciclo de 155 dias do Tzolk’in, dias que ocorrem/ocorrerão apenas uma vez ao longo deste ano específico. Apenas 15 dias depois, quanto chega Yaxk’in, temos a primeira vintena já contada dentro deste intervalo de 155 dias. Isso significa duas coisas: (1) o dia 5 Xul, no Ja’ab’, é acompanhado pelo dia do Tzolk’in que será “dono” do ano seguinte; (2) em 5 Yaxk’in, portanto, completamos 20 dias desde 5 Xul (todos os primeiros 20 dias [no Tzolk’in] do ano já terão passado).

Lembram que YAX também pode significar “primeiro”? Pois bem, Yaxk’in é, de fato, a primeira vintena completa, em que teremos apenas “novos” dias, dias únicos e que ocorrerão uma única vez dentro do ano em questão. Se para os mayas cada dia é um “rosto do Sol”, temos rostos não só “novos”, mas que só voltarão a aparecer no ano que vem, por mais que pareça que o ano novo em 11 Manik’ ainda esteja relativamente recente em nossas memórias. O que é mais interessante é que Yaxk’in faz par com Kank’in, literalmente trazendo “dia[s] “maduro[s]”, isto é, já se passaram 260 dias dentro do ano, e retorna 11 Manik’, precedendo todos os outros 104 dias que, após ele, se repetirão dentro do ano corrente. Até que voltaremos a 12 Eb’, desta vez sim pra iniciarmos outro glorioso ano maya.

Uma maneira de entender os conceitos de “dia novo” e de “dia maduro”, portanto, e vários outros conceitos, é observar com mais atenção as interações e relações estruturais que se dão entre Tzolk’in e Ja’ab’.

Yaxk'in, um "dia novo"
https://oxlajujqanil.net/posts/yaxkin/
Autor
Oxlajuj Q’anil
Publicado em
3/8/2022