Escrito em B’elejeb’ Junajpu (9 Caçadores, 9 Guerreiros), 10/10/2022.
Na guerra, como na caça (e na vida), não é sempre o tempo dos humanos (ou dos animais) que prevalece. Somos convocados, chamados, obrigados a nos mover, a agir… Seja por ter de ir pedir permissão, proteção (e alianças) longe, seja por ter de fugir repentinamente de alguma emboscada, as ações dos outros também podem nos surpreender, partir de outros tempos diferentes do nosso e que podem nos debilitar, nos ferir na guerra ou pior… Como as que são eternizadas guerreiras, abatidas no parto.
Chamados “insivíveis”, “espirituais”, também “obrigam” os guerreiros, os caçadores a irem a lugares distantes, atrás do que estamos destinados a “conquistar”, reencontrar, vencer (mas também, por vezes, perder, desencontrar, conduzir a “fins” que os meios nos levaram, às vezes nem entendendo como). Mesmo na guerra há flores. Até no lixão nasce flor. E não são menos flores por isso; são belas, são mais fortes; sua beleza está onde já não se esperava, por isso é tão grande, às vezes maior que um campo todo florido. Uma flor é muito mais “completa” quando é capaz de resistir à guerra, às adversidades de ambientes muy humanos e muy hostis.
Resistência! As plantas, os animais, sempre se deparam com o caminho possível, mais do que o previsto ou o ideal, como o velho caboclo que não tinha caminho pra caminhar… E as nove flores deste dia são também lindas, anunciam um florir na nossa vida, um desabrochar feminino muito bonito! Que também acontece em mim; estamos juntos, nós 2, Rilaj Mam… nós 3, 4, com o Raio, com ela, nos encontros e encruzilhadas dele!!
Que os gêmeos caçadores, com suas zarabatanas, seus espíritos, éticas, práxis, possam garantir sempre justiça nas relações, equilíbrio (com seu/nosso Sol, com sua/nossa Lua), reciprocidade entre nós; que nossos espelhos de obsidiana, ainda frágeis, sirvam antes como arma contra qualquer agressor que quiser se aproximar quando o Sol está morrendo e até amanhã, que nossos escudos sejam fortes!
Mesmo que nos recolhamos e silenciemos em meio à guerra, às divergências e aos perigos do caminho, eles continuam existindo, dentro e fora de nós, de várias maneiras, e especialmente nas nossas relações.
Que venham as demais, os demais, que ouçam, que percebam que lembramos, que queremos sempre lembrar, como diz o Popol Wuj. Que queiram lembrar; que peçam por isso a cada dia mais, que a abertura de suas consciências se dê como a flor que desabrocha, que floresce e muito, que caminha pra sua própria completude, pra refazer seus ciclos de vida-morte-vida-morte-vida como nunca antes.
“cada vez que eu rimo [escrevo] eu ponho minha alma em todas parte da letra…
como se eu escrevesse nos teus corno com a ponta da baioneta…
É A GUERRA NEGUIM!!!
NOIS SOMO A GUERRA NEGUIM!!!
VIVEMO A GUERRA NEGUIM!!!
SOFREMO A GUERRA NEGUIM!!
NOIS SOMO A GUERRA NEGUIM!!!
VIVEMO A GUERRA NEGUIM!!!!
SOFREMO A GUERRA NEGUIM!!!!!!!!!!!!
NOIS SOMO A GUERRA, NEGUIM…”
(Marechal - É a Guerra Neguinho)