Ciclos, existem muitos. Dentro do milésimo, do milésimo do segundo, o menor ciclo é um instante tão breve quanto infinito. Na conta longa dos mayas, chegou-se à possibilidade de um ciclo infinito, maior que a idade do Universo: não existe “o maior ciclo maya”! Infinito matemático é bonito, mas dizem que é ilusão, condenada à virtualidade do inalcançável.
Eu, por exemplo, poderia ter escrito muito mais nos últimos anos. Nem tudo é fácil; entendo e, hoje (podendo), escrevo mais… Como quem diz: “cheguei”. Voltei pra memórias ancestrais, espirituais…
E me fez pensar, muito, ler a história de Exu. Por um lado, ele esteve em muitos (todos) os lugares, escutando muitas coisas, conhecendo muitas pessoas, seus problemas; por outro, ele também passou 16 anos na casa de Oxalá, vendo tudo, compreendendo o que acontecia ao seu redor. Seja como for, em ambos os casos mais parece ter sido um antigo antropólogo, que via como os humanos iam atrás de Oxalá, por quais razões, etc, etc, etc. Tão bom antropólogo, imerso por tanto tempo, Exu já conhecia (mais do que isso, interiorizou) a praxe, como funciona, o que deveria ser feito, como as situações podiam ser encaminhadas.
Exu entendia as respostas para perguntas iguais, parecidas… Entendeu a epistemologia por trás daquilo, de toda a vida, de todos os encontros e encruzilhadas da vida; e isso, de mais de uma maneira diferente! Tanto permanecendo infinitamente, quanto se esvaindo rapidamente em teias de relações, na infinitesimal fração de segundo. O que já foi visto não “precisa” sempre ser revisto; mas há coisas que sim, precisamos rever, faz parte do trabalho… E outras tantas memórias que preenchem nosso ser, que nos dão prazer, podemos ver também em sankofa, ou no tecido do tempo dos nawales.
Assim, Oxalá (ocupado pra tanta visita, socorro) enviou Exu para as encruzilhadas e caminhos que levam até ele (e a virtualmente tudo mais que existe). O dono das encruzilhadas, de fato, mais parece um antropólogo burlesco, capaz de ser zombeteiro; tem mais semelhança com o coelho da deusa maya da Lua do que o olho nu (sin corazón) pode perceber.
Com os olhos de sankofa, quem sabe… Como quem lembra dos tempos-tecidos. Como quem demanda de novo, outra vez, os odus, os nawales… E muito mais do que se poderia escrever.
As ondas são caminhos…
Viajei… Viajei…