Inteiramente escrita e publicada na manhãzinha de 2 Kan (24/11/2022)
Não seja eu
o que não quero dos outros.
MEU desejo
NÃO TE guie!
Muito menos sufoque.
Só teu desejo
te guie.
Posso às vezes estar cansado
e confuso…
É que,
no meu fuso,
o hoje é já
amanhã.
Mas não só isso.
Queria entender,
pra explicar…
Pra mim, também.
Pra ti.
Uma escrita e basta?
Já dizia o velho:
a dúvida só serve
como petição de mais
certeza.
Quantas escritas mais?
Quantas eu viver…
Paciência Exú dá,
tempo num vai faltá.
Devo eu ter escolhido
Orí apropriado;
humano é que,
às vezes, anda enviesado.
O que é seu tá, em amor, guardado;
e se preciso, vai tudo envelopado!
Nas mãos de alguém
de amarelo.
Nada de prender
coisas ou pessoas.
Exijo, agora!
Que atenda
todas as minhas
Zero condições…
Em mais uma
fração de segundo,
me equivoco.
Preciso escrever
pra depurar,
melhor comunicar?
Parece que ando sentindo
meus mínimos erros…
Se deixar, crescem,
consomem.
Humano é bom nisso,
em aumentar e repetir
seus próprios erros;
mas sigo mais teimoso
que humano.
Medo de errar,
deixemos pros outros:
Nada de fermentar
o pequeno em grande!
Ver o que é
menor, corriqueiro,
às vezes despercebido…
Me mantém atento.
Por isso,
mox, à esquerda,
vou lembrando…
Olhando pro
eu-ontem.
SANKOFA
Já engatilho
na mente
um pedido de
perdão em Maya K’iche’
por quase nada…
E só eu entendo
a razão, muitas vezes;
e, por isso mesmo,
me vejo exagerado!
HAHAHA
Vou me aprumando,
mais que redimindo;
reajustando a rota,
muitas vezes
sem que reparem
a truncada.
Se o que germina
não termina,
pois que siga
germinando;
posso morrer feliz
mesmo se não chegar
a colher frutos.
Ando a ver. O caracol sai arrebol. A cobra se concebe curva. O mar barulha de ira e de noite. Temo igualmente angústias e delícias. Nunca entendi o bocejo e o pôr-do-sol. Por absurdo que pareça, a gente nasce, vive, morre. Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois. Um escrito será que basta? Meu duvidar é uma petição de mais certeza. (João Guimarães Rosa)