Se eu quisesse ser ajq’ij…
Quem hoje eu seria?
Se ser ajq’ij é servir,
alentar para o porvir…
A tarefa é demanda,
mais que desejo…
É mesmo obrigação!
Ser ajq’ij é ajudar a sustentar o doente,
salvar a criança, fortalecer a comunidade.
Não importa se crente ou descrente,
a quem serviria minha identidade?
Não existe ajq’ij que não seja formado,
que não tenha lá sua história,
sua família-no-tempo, seu mestre forjado,
pelo uwach uq’ij de cada dia, sua trajetória.
Suas raízes, que vão além da esperança
do místico em ser “maya” por extraterrena herança.
Mesmo sem mestres, como ronin,
deixo cá meu textim:
mais valem os sonhos
que os despertos anseios!
Todos e nenhum.
Há quem queira ser ajq’ij, e até consiga;
Mas quem nasceu pra isso faz com figa!
E com fogo.
Assim diria o brasileiro…
Antropofagicamente desprogramado
para ser um ajq’ij (des)respeitado.
Nos seus dias, as suas marcas
são companheiros pelo caminho
tal qual o rosto do Sol
que brilha, no céu, sozinho,
os duzentos e sessenta nawales
- de tantos, tantos, ancestrales
Há ajq’ij que nasceu pra ver e não ver,
que vê sem os olhos, com o ouvido,
mesmo com todo seu corpaço.
Tem quem só ouve sonhando,
como quem vai contando,
Todos os dias, do tempo e do espaço.
Tem de tudo!
Quem é o ajq’ij que te guia?
Mais valem duzentos e sessenta ajq’ijab’
do que todos os deuses-astronautas!
Nos sonhos se forjam mentiras e verdades,
como em qualquer vida, há vaidades.
E há quem queira ser ajq’ij…
Servindo ao Universo, mas sem raízes.
”Viva o Maya Galáctico!”
Há muitos que querem ser ajq’ij,
mayas galácticos no querer,
que não sabem o proceder!
Quem é o ajq’ij que te guia,
Ó “Maya Mago Galáctico Auto-Existente Branco”?
Tu não tem, pq tu não é cria…
Bem, a pandemia na guerrilha
obriga certas estratégias
que saem da trilha!
Depois das tragédias,
com os duzentos e sessenta
estarei a contenta.
Ah, mas se eu quisesse ser ajq’ij…
Seria o duzentos e sessenta e um.
Na Guerrilha, de outras frentes…
Fazendo algos diferentes.
Kablajuj Q’anil
(Nota de Oxlajuj Q’anil: ajq’ij é o nome que se dá à pessoa - seja mulher ou homem - que é pública e comunitariamente reconhecida como especialista ritual em calendários mayas, atualmente, ainda que devamos considerar variações da grafia e considerar termos específicos em diferentes línguas mayas. O trabalho dos ajq’ijab’ (plural de ajq’ij), bem como sua formação, são coisas sérias, herdadas dentro de famílias e comunidades mayas. Pense bem antes de dizer que algum homem - ou mulher - branco(a) ou ocidental é “especialista” em calendário maya. Mais vale UM “maya terrestre” do que duzentos e sessenta “mayas galácticos”!)